Elegante sempre - Janaína Depiné

Como recuperar pessoas irrecuperáveis

Talvez você não saiba, mas a primeira pessoa que descobriu meu talento para a etiqueta foi o professor Paulo Henrique de Souza Leite. Ele, que na época era pró-reitor de uma universidade onde eu lecionava no curso de comunicação social, me fez o convite desafiador de assumir a cadeira de etiqueta no curso de Secretariado Executivo. Foi o começo de tudo. Por isso, sou sempre grata à ele. Dia desses ele compartilhou comigo um texto de autoria dele e fiquei tão encantada com a profundidade que pedi autorização para compartilhar aqui. Espero que abençoe você.

“Somos o que fazemos. Mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. Eduardo Galeano (Escritor Uruguaio).

O título COMO RECUPERAR PESSOAS IRRECUPERÁVEIS não me pertence. Mas me foi autorizado pelo seu criador a usá-lo. E ele o fez informalmente, de acordo com a sua desapegada natureza. Eu o ouvi numa conferência proferida pelo próprio. Pasmem!… Ouvi numa fita K7. Diversas, repetidas vezes. A fita se tratava de um presente de uma aluna. Na verdade, um empréstimo. Presente, porque se tratava do conteúdo presente ali. A fita voltou para a distinta estudante. Mas o discurso gravado nela ficou tatuado em minha alma para sempre. Seu autor: Paulo Borges de Oliveira Júnior. Profícuo e profundo orador. Dos melhores da minha lista de tantos e importantes comunicadores.

Minha expectativa com a abordagem do respectivo orador envolvia a “recuperação” de pessoas de meu entorno mais íntimo e afetivo. A começar pelo cônjuge. Depois, escorria pelos amigos mais chegados e, naturalmente, pela minha equipe de trabalho para um desempenho mais produtivo e eficaz. O tema, atrativo e perspicaz, gerou, imediatamente, um silêncio digno para a audição de sinfonias desagradáveis de um ou outro inseto presente no lugar. Além disto, ouvia-se somente a voz do conferencista e a sua respiração na retomada da palavra em variações de tons e timbres de acordo com a ênfase exigida pelo discurso, tamanho o interesse da plateia presente.

Eu, em minha condição de filho mais velho de uma família de cinco filhos, de líder e exemplo em grupos e núcleos dos mais variados desde a minha mais tenra infância, de menino querido e desejado por todos os de meus relacionamentos mais próximos, de estudante prodígio com talentos e valores consideravelmente reconhecidos, de rapaz galanteado e solicitado com regularidade pelas moçoilas em minha juventude, de professor homenageado por todas as turmas onde ministrei uma mísera aula, imaginava-me uma referência irrepreensível para auxiliar os desprovidos de tantas qualidades a alçarem o meu patamar e outros degraus elevadores de condições limitadas e restritas.

No entanto, ao proferir as primeiras palavras de seu discurso, posteriormente transcrito por mim e entregue ao autor em refinada encadernação, o conferencista parecia se dirigir exatamente a mim como o IRRECUPERÁVEL do título de sua apresentação. Sua analogia trouxe o casamento como parâmetro de relacionamento de maior cumplicidade. Nele, as naturais diferenças entre o homem e a mulher, tão pontuais, orientam as faltas e as falhas mais graves ao outro interlocutor do casal e não a si próprio. Sua abordagem se inicia antes do matrimônio, quando da busca da mulher ou do homem desejado para se constituir uma família bem sucedida.

Surpreendentemente, o noivo escolhido por ele, não se tratava de qualquer um ou de alguém inserido em contextos convencionais de histórias, romances ou novelas tradicionais. Nem se encaixava em modelos de parâmetros idealizados por um exigente e referencial manual ou curso de casamento reconhecido por igrejas e religiões das mais praticadas. Não! O nome do noivo já predizia um pouco de suas irrepreensíveis condições e naturezas exaltadas pela história e pela vivência de tantas pessoas existentes desde o seu surgimento: Jesus Cristo!

Quem, de alguma forma, conhece um pouquinho de teologia cristã ou frequentou a Igreja Católica e frequentou missas, fez primeira comunhão, fez catequese, ou, no caso de igrejas protestantes, frequentou cultos, aulas de escola dominical, de batismo, de profissão de fé, já sabe sobre de quem se trata a noiva de Jesus Cristo: a Igreja!

No caso, esta noiva escolhida, a Igreja, se encontra nos fiéis compositores do rebanho da crença religiosa sobre a figura do Ícone Divisor da história em antes e depois de nosso tempo, o próprio Jesus Cristo. Assim, escrevo este texto aos vinte dias do mês de junho, do ano de dois mil e dezessete DEPOIS de Cristo.

Após longa e didática introdução, vamos aos fatos reveladores e transformadores de minha perspectiva de vida presentes no incrível discurso do nobre orador acima citado.

Onde Jesus Cristo procuraria alguém para se casar? Em períodos de outrora, segundo meus pais, os rapazes de antigamente procuravam as moças casadoiras em casas de famílias tradicionais e em escolas de magistério: as famosas estudantes do curso normal, como se dizia àquela época. As jovens ficavam à espera de seus idealizados “príncipes”. O natural se dispunha em homens cortejarem as mulheres. Isto ainda prevalecia até o começo da primeira metade do século XX. Imaginem, então, há 2017 anos!

Pois bem, segundo a Bíblia, conhecida pelo Cristianismo como a Escritura Sagrada, Jesus Cristo procurou uma noiva em outro lugar. Esta noiva, conhecida como Igreja, segundo este respeitado e respaldado registro comum a tantas práticas religiosas milenares, conhecida como Bíblia, Ele, Jesus Cristo, a procurou no lugar mais improvável para se encontrar alguém para se dividir a vida e se entregar a esta pessoa para constituir um plano comum de família e de história: um prostíbulo! Contestações? Leia um dos livros da Bíblia, um dos menores, de nome Oséias. E conheça a trajetória de seu principal personagem e os seus desafios no chamado recebido para traduzir uma mensagem do Próprio Deus à Sua Igreja: um casamento com uma prostituta de nome Gômer!

E desta forma, analogamente, Jesus Cristo se casa com a Sua Igreja encontrada no estado existencial de traumas, de faltas, de perdas, de angústias, de medos, de ansiedades e de tantas outras falhas naturais a qualquer um de nós. Nosso instinto animal precede nossa consciência. E, sem percebermos, agimos com sentido de revanches, de iras justificadas em devoluções egoístas, de ganância acumulativa de bens e de prazeres em detrimento do prejuízo de outrem e assim por diante.

Contudo, mesmo conhecendo esta condição limitadora de Sua noiva, Jesus a amou. E lhe disse, durante os tempos desde então, suas qualidades. De uma forma tão pontual e efetiva, tão regular e espontânea, de maneira tão intensa e disponível, ao ponto de suas virtudes e benevolências prevalecerem de maneira predominante aos seus defeitos, às suas imperfeições. E desta forma, seus hábitos mais simples se ajustaram a propósitos e objetivos mais elevados, condizentes com a sua melhor condição de entrega.

No final da Bíblia, esta mesma noiva aparece em um matrimônio com o Cristo, aqui descrito como Cordeiro (Esta designação de Jesus Cristo aparece diversas vezes na Bíblia), da seguinte forma: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro (O Cristo), e já a sua esposa (A Igreja) se apronta. E foi lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos. E disse-me: escreve que bem aventurados são aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro (O Cristo). E Ele me disse, ainda, estas são as verdadeiras palavras de Deus”. Apocalipse, 19:7-9. Muitos duvidarão desta noiva se tratar da mesma mulher escolhida por Jesus Cristo no começo da história. Mas, justamente disto, se trata o Cristianismo: REDENÇÃO!

Quer dizer, PARA RECUPERAR PESSOAS IRRECUPERÁVEIS, precisamos nos concentrar em suas qualidades, em suas virtudes, em seus aspectos positivos, em suas melhores entregas, em seus pontos mais eficientes. E, ao mesmo tempo, como Jesus Cristo, precisamos nos concentrar nesses mesmos aspectos em nós para inspirarmos, com o nosso exemplo, estas pessoas. E nos tornarmos referências quase irresistíveis para as suas jornadas conosco. E despertar nelas o seu melhor no dia a dia, cotidianamente, de maneira persistente e pontual. Com o exercício assertivo da paciência e da empatia.

Então sempre haverá sucesso em nossa ação com estas práticas cristãs? Obviamente, da mesma forma, há em nós limitações desconhecidas até determinada experiência e tantos outros defeitos. Este procedimento se mostra um caminho conhecido e reconhecido pelo tempo. A própria Igreja, organização tão antiga, das mais tradicionais e respeitadas na sociedade, com tantas conquistas e benfeitorias, quantas vezes ela falhou? Houve inquisições, reformas, abusos de poder e muitos outros graves e sérios contratempos. Contudo, ela sobreviveu e cresce, apesar de tanta resistência e oposição. E tem como seu espelho e inspiração mais importante o seu Noivo e Cúmplice mais Importante: O Próprio Jesus Cristo.

Concluindo, temos a tendência natural de nos concentrarmos nos defeitos dos outros e nas nossas qualidades. E, eventualmente, também nos culpamos quando faltamos de alguma forma num âmbito de incapacidade de recuperação, de redenção. Sem falar de, da mesma maneira, outras vezes, nem reconhecermos as melhores qualidades alheias. E, desta forma, estragamos e impossibilitamos potenciais virtudes em nós e naqueles com os quais convivemos em todos os níveis. A começar pela nossa família. Mesmo ao falar de pontos de atenção, de desvios, de faltas e de falhas nas pessoas, nos profissionais, nossa diretriz sempre deve se alinhar com o desejo da condição buscada pelas metas, pelos objetivos e pelos propósitos pré-determinados. E estes se encontram nas qualidades, nas virtudes e nas benevolências de cada um e não em suas falhas.

Em suma, quer um casamento melhor? Quer aprimorar seu relacionamento com os seus filhos? Quer desenvolver o potencial de seus pares profissionais, dos seus colaboradores ou de sua equipe? QUER RECUPERAR PESSOAS IRRECUPERÁVEIS? Oportunize- lhes e a si próprio a chance da REDENÇÃO! Como? Reconhecendo-lhes e lhes exaltando, na devida proporção e no momento certo, com equilíbrio e assertividade (Cada pessoa tem uma sensibilidade, uma natureza peculiar e própria), mais as suas qualidades e as suas virtudes ante os seus defeitos, as suas falhas, as suas faltas e os seus eventuais tropeços. Não as denigra. Elogie-as!

Reuniões regulares, treinamentos, seminários, conferências, no caso de empresas e organizações, oferecem oportunidades de modular este contexto para o melhor desempenho da equipe. No caso das famílias, as refeições, os encontros de lazer, os passeios e as atitudes românticas entre os casais também oferecem estas oportunidades. Obviamente, o contato individual, principalmente com os profissionais e as pessoas de interação mais íntima e direta, requer esta ação de maneira separada das ações coletivas. E sempre de forma repetida e sequencial, aprimoradora.

Quanto a mim, asseguro-lhes, esta prática se assegurou como verdadeira e eficaz. Tenho um casamento de quase 30 anos. Depois de ouvir esta mensagem eu consegui uma ascensão meteórica em minha vida profissional e afetiva. Tornei-me diretor de grandes grupos do segmento educacional, trabalhei como consultor e educador junto a um volume enorme de empreendedores e profissionais diferenciados em todo o país e constitui uma família com a qual ainda me exercito periodicamente nesta aplicação.

Algumas de minhas melhores realizações neste contexto se encontram no meu matrimônio e em centenas de alunos meus do ensino médio, da graduação, da pós-graduação, bem como empreendedores e empresários reencontrados em situações muito diferentes (PARA MELHOR!) de quando eu os conheci, de quando eu compartilhei com eles a minha vida pessoal e profissional. Promovi diversos trabalhadores em suas funções para cargos mais desafiadores e melhor remunerados. Também desliguei uma infinidade de gente na função de gestor, afinal de contas, esta também se mostra uma forma de exercitar esta questão de acordo com cada contingência.

Agradeço muito o conferencista e provocador deste texto, o Paulo Borges de Oliveira Júnior. Gratidão também a cada uma das pessoas geradoras das oportunidades deste exercício de elevação do caráter através do exemplo do noivo, Jesus Cristo, minha maior e mais essencial referência de vida. A Ele, eu devo tudo. E com Ele eu caminho confiado em Sua Graça, em Sua Misericórdia e, especialmente, em Seu Amor (Este Amor tudo pode, tudo crê, tudo suporta e nunca falha)!

Professor Paulo Henrique de Sousa Leite
Educador, Conferencista e Consultor Paulo Henrique de Sousa Leite. 

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