Elegante sempre - Janaína Depiné

Quando a gente não dá conta

Nossa cultura nos faz acreditar que valemos o quanto produzimos e se, por um motivo ou outro, não conseguimos estar ativas nos sentimos impotentes ou desnecessárias. Muitas mulheres hoje sofrem por se sentirem incapazes, desvalorizadas pelas pessoas, com a autoestima baixa e completamente desmotivadas.

Quando não estamos nos sentindo muito produtivas, capazes e dispostas começamos a também nos amar menos. Porque, ao contrário do que eu acreditava, temos a impressão de que as pessoas nos amam menos quando não somos úteis, mas nós também temos essa tendência de nos amar menos quando não somos úteis para nós e para os outros. Essa foi a minha surpresa quando descobri que estava brava comigo mesma por não estar dando conta de nada após quebrar a clavícula (falei sobre isso na semana passada).

Eu achava que estava no meu melhor momento, no auge dos quase 30, muito ativa, envolvida em muitas atividades, autoestima em patamares que nunca havia desfrutado (e olha que o percentual de gordura ainda estava elevado também). Eu podia tudo! Acreditava mesmo que podia. E isso me fez me amar mais, cuidar mais de mim, do meu corpo, da minha saúde, das minhas amizades e relacionamentos. Eu conseguia (pela primeira vez na vida sem sofrer) dizer não às pessoas e sim para mim quando era necessário.

Isso acabou quando um tombo quebrou a minha crista, o meu orgulho e o meu pseudo amor próprio. A realidade, minhas caras, dói mais que a clavícula quebrada.

 

Descobri que assim como aprendemos a amar as pessoas por utilidade, aprendemos a nos amar por utilidade. E é por isso que quando um osso quebra ( inutilizando você para o trabalho, lazer e até o abraço e carinho das pessoas); a depressão bate na porta; a ansiedade, estresse ou síndrome do pânico viram a esquina; outras doenças ou situações crônicas e latentes na vida de tantas mulheres aparecem. O amor próprio vai saindo pelos fundos enquanto as cobranças (as pessoais e dos outros) entram pela porta da frente.

 

Quando estamos em dia com a balança; as metas no trabalho alcançadas; unhas feitas e cabelos alinhados e hidratados; filhos bem criados; casa sempre arrumada; marido satisfeito, acreditamos que isso nos torna mulheres-maravilhas.

 

Até que um dia você não consegue lavar a louça, pentear os cabelos, tomar banho sozinha, correr para não perder o ônibus. Até que um dia tudo que você dispõe como remédio chama-se paciência, que você sabe que não tem e no meio da sua rotina frenética nem precisava, afinal você dava conta. Já hoje é tão vital quanto seu suco verde de cada manhã ou aquela corridinha básica para manter o shape, o humor, a força e aquela ideia de invencibilidade que você custou a conseguir.

 

Os paradoxos da vida não param. Quando algo para te frear acontece você começa a contar pra você mesma a receita de sucesso que um dia contou pra mulheres no salão, na rua, em alguma lanchonete, na ida para o trabalho, dentro do ônibus ou em algum outro lugar cheio de mulheres tentando dar conta, ir além, superar a vencer velhos patamares inatingíveis.

 

E no final dessa repetição você vê que precisa mesmo é rever valores, que só há um “Super Homem” e que Ele não nos ama pelo que fazemos e nos mostra nosso verdadeiro valor. Isso, com o tempo – esse que estou aprendendo a respeitar -, muda a nossa forma de ver as pessoas, muda nosso olhar sobre nós mesmas e sobre outras mulheres que por alguma razão, assim como nós, não estão dando conta.

 

À medida que você espera entender o que Ele quer ensinar, a medida que o silêncio vai aumentando, que as lágrimas brotam como nascentes; que parece que você perdeu o ar, as forças, a coragem, a utilidade…Algo está nascendo dentro de você. É você renascendo com um olhar de compaixão por quem precisa. É você aprendendo a reconhecer, com a sua humanidade e limitações, a força de um Deus tão grande.

 

É você parando de acreditar que Ele te ama pelo que você faz. É você parando de amar as pessoas pelo que elas podem fazer por você. É você dando as pessoas a oportunidade de te amarem sem oferecer nada em troca. É você mergulhando nesse infinito que é a graça de quem tudo pode mesmo quando você não dá conta.

 

Parece que vai demorar a fazer sentido, parece que vai ser mesmo difícil esperar. Parece que ainda vai doer mais que a clavícula esse processo de cura da alma, das emoções, das vontades…Ainda bem que eu não estou dando conta de fazer nada que pudesse me livrar desse tempo de esperas.

 

Por Thalita Daher
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