Elegante sempre - Janaína Depiné

Um dia que mudou minha história

No dia 2 de janeiro de 2017 eu estava muito feliz. Tinha passado a manhã cuidando do jardim da nossa rocinha em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto-MG. Estava podando um jardim fechado que fiz e consagrei a Deus tempos atrás. Os planos eram revitalizá-lo no período de férias.

Devido ao cansaço combinei com meu esposo de almoçamos com nossos filhos em um restaurante da cidade. Depois iríamos comprar vasos para minha jardinagem, passar na farmácia e fazer supermercado. Minha irmã viria de Uberlândia para nos visitar no dia seguinte com a família e, dali uns dias, viajaríamos de férias. Tudo perfeitamente planejado.

Desci sozinha na farmácia enquanto meus garotos esperavam do outro lado da rua no carro. Na volta, o trânsito intenso me fez aguardar um bom tempo. Até que um caminhoneiro gentil parou para me dar passagem naquela avenida que é na verdade uma BR que passa dentro do pequeno e pacato distrito.

Comecei a atravessar e daí em diante o que sei foi o que me contaram ou li, como nessa mensagem que meu filho mais velho enviou usando meu celular para familiares e pessoas da igreja enquanto esperava a ambulância comigo:

“Peço orações para a Janaina que foi atropelada agora à tarde em Cachoeira do Campo. Neste momento, está na emergência em Ouro Preto e será levada para o Vera cruz em BH. Foi diagnosticado sangramento no cérebro além de fratura no ombro esquerdo. O quadro é delicado e peço-lhes que implorem ao Senhor pela saúde dela.”

Soube pelo meu esposo que uma moto me atingiu do lado esquerdo. Fui jogada para o alto e cai com a cabeça no asfalto. Com o barulho, ele e meus filhos olharam pela janela para ver o que era. Para desespero deles era eu no chão. Não me lembro de nada e acredito que Deus criou um mecanismo do cérebro apagar nos momentos de grande choque justamente para isso. Só lembro de sentir dor e pedir três vezes a Deus para não morrer. Na última vez comecei a ouvir as vozes ao meu redor. “Respira”, “Não mexe”…E a consciência começou a voltar.

Fui levada para a Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto onde passei por dezenas de exames e o diagnóstico: fratura na clavícula e traumatismo craniano. A suspeita de uma lesão na coluna vertebral foi descartada depois de um segundo exame, mas devido à gravidade na cabeça seria preciso me transferir para uma UTI neurológica. Havia o risco iminente de entrar em coma ou precisar fazer uma cirurgia para drenar o sangue no cérebro.

Enquanto isso as pessoas começaram a enviar orações em áudio e minha família colocava para eu ouvir. Quando a ambulância da Unimed chegou, meu esposo pediu para a equipe médica esperar para eu ouvir a oração de uma amiga, Margarete. Todos ouviram em silêncio.

Ao chegar à UTI do Vera Cruz em BH recebi a informação de que se o sangue não parasse eu seria operada. Enquanto isso ficaria em observação. O tempo todo fui atendida por excelentes médicos e enfermeiros.

Lições da UTI

Rapidamente descobri que para sair de uma UTI é preciso ter fé. Usei a minha. Disse que não precisava de fralda, pois conseguiria usar a comadre para urinar e consegui. Disse que eu não precisava tomar banho no leito, pois eu conseguiria caminhar até o banheiro e tomei, apesar da fraqueza.

Comi, mesmo sem vontade porque sabia que isso me ajudaria. Fiz incessantemente os exercícios que a fisioterapeuta me passou para evitar embolia pulmonar. Meus colegas de UTI eram pessoas mais velhas, a maioria com AVC. As únicas pessoas com quem eu conversava eram as enfermeiras e minha família no curto horário da visita.

Orei sem parar e cantarolei “Não compreendo teus caminhos, mas te darei a minha canção” (do Livres para Adorar) e tentei me manter positiva. Repetia a todos instante: “Cura-me Senhor e sei curada. Salva-me Senhor e serei salva” ( Jeremias 17:14)

Lições de fé

Meu esposo me avisou que uma enxurrada de pessoas escreviam para ele ou para mim dizendo que estavam orando. Nossos pastores Ana Cláudia e Flávio colocaram meu nome da Torre de Oração de nossa igreja. Imediatamente intercessores em toda a cidade começaram a clamar por cura e restauração.

Há poder na oração e precisamos entender que é um privilégio ter alguém que ore por você. Durante minha curta estadia na UTI fui a única a receber pastores e a orar com a família.

Há muitas pessoas sozinhas, sem fé ou esperança nos hospitais. Elas precisam tanto de alguém que as toque, ouça, veja ou ao menos ore por elas.

Lições de amor e perdão

No dia 4 de janeiro, contando com a bondade da enfermeira Célia, consegui sair cedo na cadeira de rodas para fazer uma nova tomografia.

Quando minha irmã, cunhado e esposo chegaram para a visita das 11h eu já tinha meu exame pronto aguardando o médico. Como eu disse aos enfermeiros aquele seria meu passaporte de saída. E o que eu esperava aconteceu. Tive alta. Aliás, a única a ter alta naqueles dias. Da UTI para casa, para espanto de todos, inclusive da minha família que não havia levado roupa para mim…rs

Pela bondade de Deus eu não precisei fazer cirurgia. Meu cérebro está absorvendo todo o sangue de forma surpreendente como mostram as tomografias.

1ª tomografia feita dia 02/01 com grande área afetada. Dois dias depois, tomografia mostra área reduzida de forma impressionante.
1ª tomografia feita dia 02/01 com grande área afetada. Dois dias depois, a nova tomografia mostra área da hemorragia reduzida de forma impressionante. Ao centro encaminhamento médico da UTI de Ouro Preto para BH. 

Ao chegar em casa, a dor deu lugar a alegria. A casa estava cheia. Minha família se mobilizou para estar comigo e apoiar meu esposo e filhos. Fui cercada de cuidado e amor.

Minha irmã fisioterapeuta me exercitou para me manter forte, saudável e motivada. Meu cunhado médico foi um consultor desde o primeiro socorro no local e indicou remédios para diminuir as cicatrizes. Minha sobrinha e afilhada de apenas seis anos não saiu de perto e disse que o pior dia dela tinha sido o do meu acidente. Meus pais, que choraram e riram comigo, tornaram os dias mais leves. Meu irmão que ligava sem parar. Minha ajudante Bere que abandonou uns dias de férias para cuidar da minha casa. Os amigos que mandaram presentes, fizeram visitas, enviaram mensagens…E, meu esposo Luiz Gustavo e meus filhos João e Pedro, que mostraram o que é amar alguém profundamente.

Amor em ação. Visita da família, fisio da irmã e alguns dos presentes.
Amor em ação. Visita da família, fisio da irmã e alguns dos presentes.

Até mesmo o motoqueiro que me atropelou e prestou socorro esteve no primeiro hospital e ligou todos os dias. Aliás, ele foi uma das primeiras pessoas com quem falei depois de ter alta. Pude agradecer, perdoar e acalmar o coração aflito e cheio de culpa dele.

Lições de gratidão

Os planos para janeiro foram alterados completamente de uma hora para a outra, mas tenho a certeza de que “a bondade e a fidelidade do Senhor” estiveram (e estão) comigo.

Tomar um banho de chuveiro, vestir uma roupa, escovar os dentes, calçar um chinelo, entrar na própria casa. Há coisas tão simples que fazemos e não notamos o valor e agora me pego agradecendo.

Nem sempre entendemos os planos de Deus para a nossa vida, mas não precisamos entender, apenas aceitar.

Louvo a Deus pelas pessoas de fé que oraram e têm orado pela minha recuperação.

E, como bem disse minha querida Pastora Ana Cláudia, bendita mão direita que está ilesa. Assim posso digitar e me comunicar com todos.

Ainda vai ser uma longa caminhada para a recuperação completa, mas sei que até aqui Deus me ajudou. Ebenézer. E certamente ele vai concluir o que começou porque o amor de Deus nos refaz.

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